Escrevo
para manter-me vivo
resgatar
as lembranças
abraçá-las
como a um filho perdido
não
estou só
tenho
ao meu lado o passado
minha
infância querida
melhor
passar fome
dormir
no chão batido
sob
as estrelas
do
que ser náufrago
até
as putas daqui
não
me consolam
falam
outra língua
com
pudor exagerado
grito
porque dói
choro
porque sinto o horror
da
fome saciada
a
saudade me corrói
do
tempo que não tinha nada
o
cheiro da lama
guardo
em minhas entranhas
apego-me
a ele
como
a um irmão
por
que estou aqui tão longe?
fui
parido ao avesso
cuspido
como merda
a
poesia faz-me resistir
escrevo
para preencher-me
papel
vazio
num
teatro de ilusões
protagonizo
angústias
melhor
que estivesse morto
exilado
para sempre
sonho
com o dia de voltar à casa minha
beber
água da talha
dizer
para aqueles filhos das putas
que
não sucumbi
que
a mãe/madrasta me tratou
como
a um filho querido
consolou-me
pariu-me
não como as putas que os pariram
deu-me
força
vá
redescobrir sua terra
um
novo Brasil
e
sorria quando tudo isso passar
abra
a gaveta
recolha
os cacos guardados
junte-os
cole-os
de
um vazio
surgirá
um vaso
e
ponha nele flores
para
atrair os colibris...
Antônio
Francisco Alves Neto
(Chico
Peres) – 30.09.2011
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