quarta-feira, 10 de abril de 2013

Máquina do Tempo (Poesia)



O ano era de 2051
entrei  em uma máquina do tempo
máquina de ilusões de cor prateada
como um sonho retornei ao passado
noite de lua cheia
de um inverno no começo do século
agosto era o mês
a fazenda de café dormia
quase por completo
um homem porém caminhava
banhado pelo clarão da lua
esgueirou-se pela parede esquerda da Casa de Farinha
até alcançar a porta principal
havia no ar cheiro de goma de farinha
no balaio mandioca picada, raspada, moída, prensada
aquela seria a noite derradeira
em um cenário de dar medo
com a espingarda de carregar pela boca
municiada com  bala de prata e sal
o homem aguardava o momento fatal
postou-se quieto atrás do moinho
posicionou a arma de frente para a porta principal
quase sem respirar para não chamar a atenção
foi quando ouviu um barulho
pegadas de bicho grande nas folhagens
vinha em direção ao engenho
o coração do homem disparou 
o suor jorrava pelas têmporas
a mão tremia
sentiu um desconforto na barriga
um nó nas tripas
não havia tempo para correr
estava ali para desvendar o mistério
que bicho era aquele
que invadia o engenho nas noites de lua cheia
comia a farinha ensacada, a sola, o biju?
tinha fome voraz

escutou ao longe a cachorrada latindo
como se pressentisse o perigo
a porta rangeu nos gonzos
a tramela foi partida em duas
pela força do bicho
tinha olhos de cão danado
orelhas de burro acuado
focinho  de lobo selvagem
pelo de urso crispado
era um homem em forma de bicho
ou talvez
um bicho em forma de homem
não hesitou 
atirou com sua espingarda de carregar pela boca
com bala de prata e sal
o medo fez com que errasse o tiro
- mas isso jamais confessou-
o lobisomem consegui fugir
não foi dessa vez
que o meu avô conseguiu matar a fera
homem com jeito de bicho
ou talvez
bicho com jeito de homem
para consolo
muitas luas cheias virão
e quando ficar novamente cara a cara com o bicho
a arma não irá falhar
- nem os seus nervos.

Esta história chegou aos netos, bisnetos, tataranetos...
graças à máquina do tempo
de cor prateada.

CHICO PERES
(Epopéia - 2010)


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